terça-feira, 27 de julho de 2010

Desde que te conheço

Sherazade e todas a Mil e Uma Noites condensadas numa só. A Guerra dos 100 Anos num suspiro. Dorian Gray num piscar de olhos. Viver suspenso, Mathusalem de uma noite só, imortal enquanto viva. Para que de manhã, se esta chegar, possa finalmente descansar tudo o que não pude enquanto vagueava na minha vida, Florence Nightingale sem ninguém para velar.
Mergulhar na malha do tempo, respirar debaixo de água, Jacques Cousteau imerso nas idiossincrasias de mim mesmo. Viver tão devagar que vejo todos a envelhecer, à velocidade da ampulheta dos nosso corações, à velocidade do Som, do meu som. Esperar sentado nas escadas de casa pelo nascer do sol e deixar os meus ossos aquecerem debaixo da luz da manhã.
Afagar uma última vez os teus cabelos, enrolar madeixas nos meus dedos, pequenos parafusos de Arquimedes que recolhem as minhas lágrimas silenciosas. Deitar a minha cabeça no teu colo e deixar os teus dedos pequeninos navegar no mar revolto do meu cabelo.
Trair a melancolia que me assiste (quem diria que a tristeza pudesse ser tão formosa...?)
"É tempo".
Foi uma longa noite, e vivi mil vidas num crepúsculo só. Os teus lábios sobre os meus, chakra elemental, Nirvana de nós, Zen pessoal. É demasiado o sol que castiga os meus olhos velhos e cansados. Rebolar devagarinho para o lado como nos domingos de manhã, "deixa-me dormir..."
Não apanhes demasiado sol.
Não te apaixones por querubins.

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