segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Chegaste lá sozinho ou tiveste ajuda?

Jornal de Notícias, Domingo, 10 de Outubro de 2010

"Há alunos que entram na Faculdade com notas altas e revelam-se maus estudantes e outros, que entrando com notas baixas, acabam por ser óptimos. A Universidade do Porto começa este ano a fazer um estudo para tentar perceber por que razão isto acontece.

«Tenho receio de que muitos estudantes tenham frequentado instituições que os preparam para fazerem exames e não para saber aprender. Isso depois no ensino superior vai dar mau resultado, porque eles vão ter de ser autónomos, compreender e saber resolver problemas e não só responder a questões em exames.
(...)
Não tenho a certeza de que a classificação que um estudante traz presa à cabeça (sic) seja um reflexo do que ele é. Pensamos que devemos ter uma intervenção mais directa na escolha dos estudantes que não seja só a classificação.»"

José Marques dos Santos
Reitor da Universidade do Porto


Helas! alguém se apercebeu do óbvio. De que ao longo dos anos grassa uma permissividade e um laxismo próximos de níveis grotescos no ensino português. Que assistimos a uma predominância de um sistema de avaliação quantitativo ao invés de qualitativo, e de o factor humano, vulgo "vocação", ter sido colocado de parte, reflexo da mercantilização da educação.
Assistimos ao longo dos anos a um facilitismo por parte das sucessivas tutelas do ensino em Portugal, tanto no acesso ao ensino superior, como no trajecto da escolaridade básica e complementar, num esforço de reforçarmos as estatísticas referentes à instrução da população por comparação com as nações ditas "desenvolvidas".
No entanto, no seguimento do modus operandi tipicamente português, esquecemo-nos do efeito pernicioso provocado pela ilusão dos resultados imediatos e a curto prazo, que em nada resolveram as questões de fundo do problema educacional. A total ausência de critério que não o quantitativo, a inexistência de espírito crítico na população estudantil, que é o produto directo das políticas de industrialização educativa, ao invés da análise, cultivo e acompanhamento do indivíduo no seu percurso, perverteram o sentido máximo da criação não só de uma população instruída, mas também educada e esclarecida em termos de valores humanos, cívicos e, porque não? (heresia) - filosóficos.

A Educação é uma coisa admirável. Mas é preciso lembrar,
de vez em quando, que nada do que vale a pena conhecer
pode ser ensinado.


Oscar Wilde

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