segunda-feira, 7 de março de 2011

Love? It's Overrated - VIII

Sonhava desde pequenina para ela o casamento perfeito. Entrar na igreja pelo braço do pai, de vestido branco, com marcha nupcial tocada por um quarteto, meninos das alianças de caracóis dourados e ele, o príncipe encantado, a esperá-la, ao fundo da nave.
Os anos passaram, a menina cresceu; tornou-se um tanto quanto menos espiritual, o que fez com que o pormenor igreja fosse menos preponderante que aquilo que imaginava nos Domingos de manhã de catequese. O simbolismo do branco perdeu-se pelo caminho com o primeiro, que ela julgou ser príncipe, e levou-o com ele, de uma vez só e enleado em mentiras, sucumbido a partir daí em assomos não muito frequentes mas firmes, à fraqueza da carne.
De candidato em candidato, com os anos a avançarem de forma implacável, acabou por conciliar num só todas as aspirações, aquele que reunia as condições menos boas em detrimento das más. Nem sempre as segundas (ou demais) opções têm de ser encaradas como inviáveis, pensava.
Amava, finalmente. Resignada, conformada, pressionada.
Mas se havia coisa de que não prescindia era do vestido. Marcadas que foram as bodas, iniciou automaticamente as provas, escolhendo meticulosamente nas revistas que lia na modista o melhor de cada modelo, esgotando a paciência da pobre funcionária com as constantes alterações que propunha a cada dia. Imaginava, pelo menos isso, o vestido perfeito. Ao menos que isso assim fosse.
O príncipe acabou por se revelar não tão principesco quanto isso. Por ironia (a que me deu na veneta, afinal de contas esta é a história que invento na minha cabeça) fugiu com a massacrada modista. Tragicomédia de cordel, piroseira de aldeia, Camilo Castelo Branco em versão blogger. Serve o propósito. Acabou sozinha, destroçada, humilhada mais uma vez, numa idade que já não fazia dela uma debutante.
Faria hoje, se tal fosse verdade, 8 anos que tal aconteceu. E continua a vestir, continuamente, o mesmo vestido inacabado, ditando ordens a uma modista imaginária e julgando ver, dia após dia, surgir aos seus olhos, consumadas, todas as suas aspirações. Já que nada mais o fora, que pelo menos isso o seja. Perfeito.

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