sexta-feira, 17 de abril de 2009

A working class hero

Acordar e abrir os olhos depois de uma noite mal dormida. É um esperar que não seja mais que um interlúdio do sonho que estávamos a ter enroscados, e afinal parece que vamos mesmo ter de sair da cama às seis da manhã.
Sento-me na beira da cama, estremunhado, ensonado, irritado, afinal de contas, ninguém devia ser obrigado a fazer uma coisa que não gosta. A vida tem sido assim nos últimos (demasiado tempo que não quero contar), esta mesma rotina. O meu ingresso na classe laboral tem sido como um longo e eterno acordar. Confuso, lento, irritado. E não, não há perspectivas que o dia vá melhorar as coisas.
Fico sentado na beira do colchão eternidades, à espera que o meu corpo reaja às ordens que a minha cabeça se esforça por ditar. É tempo de acordar, de pôr a mexer estas pernas preguiçosas. Upa, que está aí mais um dia de trabalho.
Frio, autocarro, mais frio, gente que entra sai. Tenho de fazer uma reclamação na empresa de transportes. Demasiado frio que entra pelas frestas das portas, motoristas carrancudos (pelos vistos não sou só eu quem tem mau acordar), bancos demasiado duros para o pavimento da cidade, para a habilidade do condutor em acertar em todos os buracos da rua e para o meu praticamente inexistente rabo.
Oito horas de trabalho diário. Demasiada responsabilidade. Muitos procedimentos absurdos, gente ainda mais absurda, mal educada, reivindicativa, barulhenta. Quase me dá vontade de trabalhar numa biblioteca, pelo menos tinham de falar em voz baixa.
Oito horas cumpridas. Sai-se sem pressas. Afinal de contas, porque havia de ter pressa de sair para o frio? Para voltar a uma casa vazia, com o jantar preparado de véspera à espera de ser aquecido no microondas, apenas para ser deglutido em silêncio e tomar um café no estaminé no rés-do-chão.
Não há um convite, um telefonema, ninguém. De qualquer das formas provavelmente ia declinar, tenho um jeito muito particular para ser uma besta depois de um dia de trabalho (e há que não perder o ritmo que daqui a umas horas vem aí mais um).
Hora de voltar a casa e de fazer de conta que me ocupo, que tenho uma vida. Esperar que o ponteiro dos minutos dê as voltas suficientes para eu achar que vale a pena deixar de lutar contra o sono. Três da manhã. Daqui a outras tantas já estou a repetir tudo de novo. Dormir, ou algo que se assemelhe. Vou fazer de conta que estás aqui. Bem, tu ou a Bo Derek.
Luto só mais um bocadinho.....



Para os mais contemporâneos:




Para os que como eu ainda acham que este gajo devia estar vivo (sim, havia vida para além do "Love, Love me Do")... a homenagem ao génio:


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