terça-feira, 11 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Entre mim e eu - pt. II
Pára. Respira. Concentra-te de novo.
Escuta.
Escuta-te mais uma vez.
- Para onde me levas?
- Pergunta antes para onde queres que te leve. Para onde queres ir?
- Para fora de mim. Viver em meu redor. E voltar de novo.
- Mas tu já estás fora de ti. Eu estou fora de e dentro de ti. Eu sou tu e tu és ninguém, tal como eu. Vá, para onde queres que te leve?
- Para onde eu possa não ser eu. Onde possa ser tudo e todos. Nada e ninguém.
- Toma a minha mão. Não vai demorar. Já estamos quase lá.
- Prometes?
- Pela primeira vez não vou enganar-te. Não posso continuar a enganar-me a mim mesmo.
Escuta.
Escuta-te mais uma vez.
- Para onde me levas?
- Pergunta antes para onde queres que te leve. Para onde queres ir?
- Para fora de mim. Viver em meu redor. E voltar de novo.
- Mas tu já estás fora de ti. Eu estou fora de e dentro de ti. Eu sou tu e tu és ninguém, tal como eu. Vá, para onde queres que te leve?
- Para onde eu possa não ser eu. Onde possa ser tudo e todos. Nada e ninguém.
- Toma a minha mão. Não vai demorar. Já estamos quase lá.
- Prometes?
- Pela primeira vez não vou enganar-te. Não posso continuar a enganar-me a mim mesmo.
sábado, 8 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Talentos & Companhia
portugal
................................................a partir Portugal de Jorge Sousa Braga
portugal
eu tenho vinte e quatro anos e tu fazes-me sentir
como se fosse nova demais para ti, embora me lembres que estou a caminhos dos trinta.
que culpa tenho eu
que as únicas mulheres da história portuguesa em fascículos
eram uma padeira que nunca existiu e umas quantas rainhas loucas, mães e megeras
só porque escolheste um treçolho na ponta do dedo indicador?
não imaginas como nem sequer fico húmida quando ouço o hino nacional
não estou virada p’ra te levantar o esplendor
(decerto as minhas egrégias avós me compreendem)
ontem fui às compras com a Maga Patalógika
- a vida está cara
a cara com o mal
é o que dá dar
a outra face –
e ela em vez de me dar uma poção, a querer convencer-me que com um ben-u-ron tudo passa
até esta hemorragia de lágrimas e pétalas em salga
esta mucosidade lusa a escorrer pelo atlântico e a acender lusos
portugal
um dia fechei-me no parlamento a ver se te compreendia
mas a única coisa que apanhei
foi uma otite
olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas levo-te sempre no bolso para ver as horas a transformar-me no Coelho Branco
olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas pelo sim pelo não
vou votando quando não faço aviões de papel
portugal, estás a ouvir-me?
eu sei que não. as mulheres falam de mais, não é? olha só este poema que já vai em duas páginas
portugal
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
cheguei tarde de mais para a festa dos cravos
mas ainda assim
puseram-me um prato na mesa
- estou agora a almoçar
faltam talheres, copo, guardanapo e companhia – nada de ressentimentos
ainda tenho a mão que me sobrou de escrever uma guerra nunca contada
faltam as barrigas de freira para a sobremesa que não devem tardar
- eles dizem que este banquete será sempre bom demais para mim
esquecem-se que somos nós que levantamos a mesa e lavamos a louça e tentamos aquecer
os restos
no micro-ondas
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
a venezuelana Astrid Carolina Herrera Irrazábal é eleita Miss Mundo – nada de ressentimentos
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
mário soares estava no poder e segue-se-lhe cavaco silva – nada de ressentimentos
à parte o facto de em dois mil e seis voltarem os bonecos bolorentos de uma colecção antiga às vitrinas presidenciais
olha, portugal
começo a ficar deveras ressentida!
portugal,
vou propor-te dois projectos eminentemente nacionais – porque está visto que um só não chega
que bebas um litro e meio d’água por dia, andes meia hora a pé e durmas as oito horas
e que vamos todos e todas
aprender renda de bilros
portugal
gostava de vestir-me de ti
se numa noite de inverno
Daqui
................................................a partir Portugal de Jorge Sousa Braga
portugal
eu tenho vinte e quatro anos e tu fazes-me sentir
como se fosse nova demais para ti, embora me lembres que estou a caminhos dos trinta.
que culpa tenho eu
que as únicas mulheres da história portuguesa em fascículos
eram uma padeira que nunca existiu e umas quantas rainhas loucas, mães e megeras
só porque escolheste um treçolho na ponta do dedo indicador?
não imaginas como nem sequer fico húmida quando ouço o hino nacional
não estou virada p’ra te levantar o esplendor
(decerto as minhas egrégias avós me compreendem)
ontem fui às compras com a Maga Patalógika
- a vida está cara
a cara com o mal
é o que dá dar
a outra face –
e ela em vez de me dar uma poção, a querer convencer-me que com um ben-u-ron tudo passa
até esta hemorragia de lágrimas e pétalas em salga
esta mucosidade lusa a escorrer pelo atlântico e a acender lusos
portugal
um dia fechei-me no parlamento a ver se te compreendia
mas a única coisa que apanhei
foi uma otite
olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas levo-te sempre no bolso para ver as horas a transformar-me no Coelho Branco
olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas pelo sim pelo não
vou votando quando não faço aviões de papel
portugal, estás a ouvir-me?
eu sei que não. as mulheres falam de mais, não é? olha só este poema que já vai em duas páginas
portugal
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
cheguei tarde de mais para a festa dos cravos
mas ainda assim
puseram-me um prato na mesa
- estou agora a almoçar
faltam talheres, copo, guardanapo e companhia – nada de ressentimentos
ainda tenho a mão que me sobrou de escrever uma guerra nunca contada
faltam as barrigas de freira para a sobremesa que não devem tardar
- eles dizem que este banquete será sempre bom demais para mim
esquecem-se que somos nós que levantamos a mesa e lavamos a louça e tentamos aquecer
os restos
no micro-ondas
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
a venezuelana Astrid Carolina Herrera Irrazábal é eleita Miss Mundo – nada de ressentimentos
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
mário soares estava no poder e segue-se-lhe cavaco silva – nada de ressentimentos
à parte o facto de em dois mil e seis voltarem os bonecos bolorentos de uma colecção antiga às vitrinas presidenciais
olha, portugal
começo a ficar deveras ressentida!
portugal,
vou propor-te dois projectos eminentemente nacionais – porque está visto que um só não chega
que bebas um litro e meio d’água por dia, andes meia hora a pé e durmas as oito horas
e que vamos todos e todas
aprender renda de bilros
portugal
gostava de vestir-me de ti
se numa noite de inverno
Rita Grácio
Daqui
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Entre mim e eu - pt. I
Respira. Respira bem fundo. Concentra-te. Não podes desviar-te um segundo que seja dos teus objectivos.
- Que objectivos?
- Os teus sonhos.
- Não tenho sonhos. Apenas ilusões, etéreas como flocos de neve que derretem mal os apanho na mão.
- Transforma-te. Transmuta-te. Encontra uma forma de tornar essas ilusões em caminho possível. Concentra-te. Aniquila-te. Liberta-te.
Não consigo. Não sei o caminho. Não tenho a quem pedir direcções.
- O que tens tu?
- Nada. Uma mão cheia de um grande nada. 25 anos de devaneios. Vinte-e-cinco, bem contados. Meia dúzia de canções e outras tantas cordas.
- O que és tu?
- Sonho e nervos. Consumo-me em sonho, em delírio. Sou nervos, todo eu. Todo o meu corpo é vida frenética, mas uma torrente sem rumo, a ser implacavelmente absorvida pelo deserto que atravesso.
Sim, sou isso. Sonho e nervos. Um espírito demasiado maior para um corpo que se desmembra e requebra de tão duro que é.
- Que objectivos?
- Os teus sonhos.
- Não tenho sonhos. Apenas ilusões, etéreas como flocos de neve que derretem mal os apanho na mão.
- Transforma-te. Transmuta-te. Encontra uma forma de tornar essas ilusões em caminho possível. Concentra-te. Aniquila-te. Liberta-te.
Não consigo. Não sei o caminho. Não tenho a quem pedir direcções.
- O que tens tu?
- Nada. Uma mão cheia de um grande nada. 25 anos de devaneios. Vinte-e-cinco, bem contados. Meia dúzia de canções e outras tantas cordas.
- O que és tu?
- Sonho e nervos. Consumo-me em sonho, em delírio. Sou nervos, todo eu. Todo o meu corpo é vida frenética, mas uma torrente sem rumo, a ser implacavelmente absorvida pelo deserto que atravesso.
Sim, sou isso. Sonho e nervos. Um espírito demasiado maior para um corpo que se desmembra e requebra de tão duro que é.
Das palavras
Um dia tracei um plano para te encontrar. Para me procurares. Ia escrever em todas as agendas , todos os blocos, cadernos, moleskines que encontrar a minha morada. A minha vida. Onde estou e onde não estou. Ia invadir todas as lojas, abrir tudo e escrever-me por completo, antes de ser apanhado pelos seguranças dos hipermercados ou de ser impedido de entrar nas livrarias da cidade.
Ia violar todas essas páginas em branco com o meu paradeiro, comigo, com todas as pistas de mim para ti, para me encontrares.
Só mais tarde vi que tal era impossível. Somos demasiado diferentes.
Eu gasto-me em bocados de papel com sonhos e nervos. E tu nunca tiveste uma agenda.
Ia violar todas essas páginas em branco com o meu paradeiro, comigo, com todas as pistas de mim para ti, para me encontrares.
Só mais tarde vi que tal era impossível. Somos demasiado diferentes.
Eu gasto-me em bocados de papel com sonhos e nervos. E tu nunca tiveste uma agenda.
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