sábado, 7 de agosto de 2010

Ao meu avô

Guardo para sempre comigo o momento em que o meu avô chegou de viagem há muitos anos atrás. Era já bem tarde quando chegou a casa, que tinha ficado sob minha responsabilidade na ausência dele, e só isso já me fazia sentir "crescido" do alto da minha adolescência galopante em necessidade de afirmação. Chegou como qualquer idoso, cansado mesmo depois de duas semanas de férias, mas com a energia que sempre lhe conheci e que ainda hoje, volvidos 10 anos, ele continua a manter.
Por entre os beijos, os abraços e as recordações trazidas do mundo para mim desconhecido mas certamente maravilhoso dos Algarves, vejo-o nem cinco minutos aguentar em casa, virar costas sem sequer despir a roupa da viagem, e caminhar para a entrada.
Levanta-se logo a voz da minha avó "mas onde vais tu a estas horas?", justamente, já que há uma da manhã não há muitas outras perguntas que possam fazer-se a quem chega de mais de 8 horas de caminho. O meu avô vira-se e respondeu-lhe com um ar solene e ainda assim com a simplicidade da constatação da coisa mais óbvia do mundo "vou dar uma volta lá em baixo, ver as coisas que eu vi crescer, as coisas que eu amo."
Hoje que é a minha vez de chegar de viagem, tenho pena de não ter comigo as coisas que amo. Ainda mais as pessoas. Mas guardo bem gravada na memória a recordação dessa ternura de quem viu mil vidas crescerem em frente dos seus olhos.
Um dia quero ter essas coisas.
Um dia, avô, quero ser como tu.

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