sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Chtob vse byli zdorovy!!

Devia deixar esta página em branco, que seria o reflexo de como me sinto neste momento. Um grande nada, e fico por aí.
Estes foram dias atribulados e que vão sem dúvida alguma cobrar o seu preço, mais cedo ou mais tarde. O que poderia colocar por palavras aqui e hoje não o consigo escrever. Demasiado grande.
Enchi a taça muito depressa e ela transbordou. Jorrou tudo fora, e agora fica isto.
O vazio e a ressaca.





Ia colocar "Na zdorovje!" como título, mania de tentar mostrar que sou um poliglota, mas daqueles pilantras. No entanto, descobri que não existe nada mais errado que isso. Descobri aqui. Só para tirar as dúvidas, aconselho! Caso tenham de beber muito lá fora.

So true

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Perdido e Achados

A dificuldade em acordar e sair da cama é directamente proporcional ao frio e à chuva que faz lá fora e ao número de edredons que temos na cama. É uma observação empírica, que constato todos os dias nesta maldita cidade, em que o frio parece entranhar-se nos poros e a humidade insiste em fazer-nos suar abaixo de zero e condensar-se nos dedos.
"Mais um projectinho?" - foram estas as palavras que mais me fizeram pensar quando saí da cama hoje. Ontem, quando ditas, não. Estava demasiado bebido e abstraído para meditar nelas ou sequer ripostar com o meu interlocutor.
Devia ter o interruptor da indignação desligado....

Braga
28 de Janeiro de 2009

Ressaca

Ressaca de sentimentos. Era o que nesse dia lhe martelava a cabeça. Massacrava-o até à medula dos ossos, quase lhe fazia saltar os olhos das órbitas. Não era suposto. Os seus caminhos pareciam finalmente convergir, dirigir-se para o mesmo ponto, e ainda assim parecia tudo tão etéreo, tão vazio.
"Our minds and bodies just sensually click / I fall between your boobs and you on my dick." Tinha sido mais ou menos isso que tinha acontecido nesse dia, e ainda assim tudo pareceu ficar ali. O calor ficou no meio dos lençóis, e tudo acabou por se tornar gelado como a chuva que caía lá fora. Cada qual seguiu o seu caminho, e a maior angústia era ter a vaga noção que do outro lado era isso que grassava também.
Há muito que tinham deixado que o frio se instalasse, e ambos sabiam que não eram pessoas de meios termos. Eram ou não eram; tinham ou não tinham. Escolheram falar, mas mas ambos tinham perdido os dicionários com que se decifravam mutuamente.
Perderam-nos e para desespero dele, parecia não haver volta a dar, quando não eram sequer capazes de se manterem juntos na mesma cama.
Amargo de boca do que podia ter sido.

Epifanias e coisas que tais


Há coisas que às 5 da manhã fazem todo o sentido na nossa cabeça.
Sim, hoje acordei revoltado com o Mundo. E sabem que mais? Sinto-me muiiiiiiiiito bem!!
Às vezes é o que nos faz falta. Em vez de andar para aí "ah, o mundo é tão bonito, la la la, estou em sintonia comigo mesmo e com o Universo", é mandar tudo para o real arvoredo.
"Sê como a rã no charco" my balls!!
Estrelinha que te guie, diria a minha avó.
Universo, tem um bom dia, hoje mando eu ^^

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eram p'raí 7 e pico...

Mescaline.
Mezcal Inn.
Mezzanine.
Magazine.
Breathe in.
Fall in.
Fallin'.
Heroin.
Cocaine.
[This cocaine makes me feel like
i'm on this
]
Song.
Wrong.
Coffee! (strong)
- A Scotch!!
Deboche.
B(r)osch (é bom!!)
Ka-Boom!!
Doom.
Mine. (All mine...)
Divine.
Divide.
Conquer.
Suffer.

Listas

Estive (e ainda estou) tentado a fazer um apanhado de 26 anos e listar todas as pessoas que alguma vez conheci. Fazer uma lista (tarefa hercúlea) com os nomes de amigos, colegas, familiares, conhecidos, gente que gosto, gente que não gosto, até colocar mesmo aqueles que não conheço o nome mas com os quais troquei algum tipo de impressão, nem que seja "o miúdo de óculos à John Lennon de Cernache" ou "a miúda que me fez companhia uma tarde inteira no calor do Verão à espera dos comboios atrasados".
Aliás, acho que devia escrever o nome e as primeiras duas ou três palavras que possam assomar-me à cabeça.
Elaborar uma lista (mais uma) com essas pessoas, tanto as que me deram como as que me tiraram.
Devo tanto a umas como a outras.
A minha homenagem.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Chamar os Bois pelos Nomes

Existia há uns anos, não muitos, a tradição e o brio de honrarmos um nome, principalmente o nosso. Aparentemente, é um acto que se mantém amiúde entre alguns de nós, por outros nem tanto, mas nem sempre por vontade própria.
Há casos gritantes de desrespeito do nome que nos foi atribuído, por vontade de terceiros ou por força da linhagem. Vejo pelo meu caso (um desrespeito absoluto), em que não poucas vezes, quando dou o meu nome na lavandaria, no clube de vídeo ou na padaria, me disparam automaticamente com um "Ah é? Mas é o piloto de Fórmula 1?" (hoje em dia já nem tanto, fruto da despromoção do meu homónimo da ribalta da prova rainha da queima de combustível); logo a mim que, perdoem-me os meus pais e a "linhagem" pelo desrespeito, nem conduzir sei. É um desrespeito consciente e preguiçoso, logo, reprovável. Um caso menor, digo eu.
Outro desrespeito conduz-me não raras vezes ao facto de que uma das pessoas mais bonitas que conheço tem por apelido de família "Feio". Um desrespeito que considero mais do que justo.
Foi por intermédio do Pedro Paixão, outro que mantém o respeito pelo nome, e quem o ler saberá de conhecimento próprio do que falo, que aprendi que entre os judeus, o nome tem uma importância primordial, por força da tradição. Assim, qualquer judeu que nasça com o carimbo "Cohen" na certidão tem o peso da tradição nas costas, e carrega com ele a obrigação de honrar esse nome ancestral.
Gostava que certas pessoas que ostentam orgulhosamente nomes sonantes se preocupassem mais em cuidar da herança que lhes foi encarregue. Existe um nome, sinónimo de sapiência, sabedoria e capacidade de pensamento, carregado por um senhor da nossa praça (que não tem grande poiso aqui na estalagem) que eu gostava de ver respeitar o nome que os seus progenitores, qualquer que tenha sido o motivo, lhe imputaram à nascença. Será o primeiro caso em que por certo temos milhares de pessoas a apelarem ao Registo Civil para alterar uma certidão. Tamanho desrespeito pelo nome de Sócrates tem de ser sanado com urgência.

domingo, 22 de agosto de 2010

For those about to rock



Hell Yeah!!!


A partir de hoje, convosco, na Mezcal Inn, The Man. The Man himself será o barómetro da "coolness" dos conteúdos que passam pelo lobby.

Errata




"Em verdade em verdade vos digo: será mais fácil fazer passar um rico montado num camelo pelo buraco de uma agulha que um senador entrar no reino dos céus."



We're all living in America,
America is Wunderbar

sábado, 21 de agosto de 2010

Da Relatividade - Episódios na Mezcal Inn

(Banco do balcão 1) - Quando somos novos, a Urgência de amar leva-nos uma e outra vez a correr para os braços da Desilusão; e lamentamos amargamente cada recaída.

(Banco do balcão 2) - E quando somos velhos, o Desespero de sermos não amados leva-nos a correr mais uma vez para os braços da Desilusão; e lamentamos amargamente não termos corrido mais vezes quando tínhamos tudo nas nossas mãos.

Dos filósofos

"O Silêncio é um amigo que nunca trai."
Confúcio




.... sou só eu quem acha que isto é fugir com o rabo à seringa?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Da secção "Pensamentos e intenções do dia"

Quero que te fodas.

Com outros.

Mas que ainda assim te fodas.





^^

The Man says:

Corta & Cose também é Política




Era tão dedicada à moda que achava que Mussolini era um tecido.




O crime perfeito

Desceu as escadas mais uma vez, mais uma noite, como já há muito tempo fazia, cumprindo os pequenos rituais diários. Desencostava o frigorífico da parede, abria a porta que se escondia por trás dele, descia as escadas de madeira para a cave e só ligava a luz, um ténue candeeiro de secretária depois de ter acendido um dos Pall Mall que levava consigo para a bruma. Noite após noite, há tanto tempo que não se lembrava já do quanto, ele recolhia-se até de madrugada sentado naquela cave vazia, ocupada apenas por uma secretária espartana e uma resma de folhas de papel amarelo. Descia para escrever.
Tratar-se-ia de um cenário comum, um qualquer candidato a escritor com laivos de melodramatismo exacerbado, não fosse a forma e o propósito de tal empresa. Sentava-se sozinho, e após devorar o cigarro, acendia o candeeiro e começava a escrever. As palavras saíam-lhe quase de rajada, o que não seria de admirar, já que durante todo o dia pensava nelas. Havia um fio condutor no raciocínio, não era um exercício de espontaneidade o que se passava naquela cave. Congeminava durante o banho no que iria escrever. Durante as reuniões de planificação no trabalho, ele imaginava a acutilância de um advérbio, e enquanto atravessava a paisagem cinzenta da cidade encurralado entre os corpos da hora de ponta nos autocarros imaginava como um simples ponto e vírgula teria o efeito de mais um aperto na garganta dela.
Escrevia para ela, e fazia-o por vingança. Todas as noites descia para um lugar mais escuro do que a cave onde se encerrava em segredo para escrever-lhe um livro. Um livro que continha só e apenas a vingança dele sobre ela. O seu móbil era frio, simples e escorreito: matá-la. Matá-la-ia com a estória que cravava com a BIC preta no papel amarelo grosso, noite após noite. Estudava a forma de encerrar o veneno mais antigo que existe nas palavras que escrevia: o ódio dos abandonados.
Era o crime perfeito. Uma leitura, uma única leitura de uma só assentada, presa às palavras dele, presa ao papel, agarrada a uma leitura esfaimada, e no final, a morte silenciosa, sem vestígios, sem marcas, sem sujidade. Uma morte limpa.
Era obrigado a um esforço sobre-humano, que o consumia até à exaustão. As palavras nunca tinham tido dificuldade em visitá-lo e dançarem-lhe na ponta dos dedos, transmitidos por essa batuta permanente que comandava com a mão direita em traços finos e longos. Não, nunca tinhe tido dificuldades em escrever. Mas como escrever de forma a prender-lhe a atenção até ao final? Sim, era imprescindível que ela lesse o livro até ao fim, que devorasse, lenta mas continuamente, as palavras que lhe dedicava. Teria de ser como uma maçã envenenada; podemos espalhar o veneno na superfície, mas é imperativo termos o máximo dos cuidados. Demasiada concentração numa pequena porção e o sabor vai levar a que recusemos a degustação logo na primeira dentada. Demasiado espalhado e corremos o risco de ficarmos saciados antes de ingerirmos a quantidade necessária para que ele se manifeste. Não, o veneno nas palavras, nas páginas do tomo tinham de ser na dose necessária para matar, mas tinham de ser doces, cativantes, de um certo modo viciantes até; queria matá-la, mas queria fazê-lo da forma mais cruel, queria que o estertor fulminante da agonia final fosse dominado pela incredulidade do prazer.
Por isso ele não tinha outra preocupação senão imaginar na sua cabeça, forçar cada palavra a articular-se de forma a que estivesse lá, nas doses certas, o móbil máximo da obra.
E assim, durante o dia, ele descia até um lugar mais escuro que a cave, um lugar que ficava bem escondido dentro dele, para conjecturar, para delinear mentalmente cada porção da estória. Sabia-a de cor, sem falhas. Cada letra, cada palavra, cada capítulo, tudo se encontrava gravado na memória dele, como se o seu cérebro fosse uma complexa prensa de Guttenberg, com cada caractér pronto a morder o papel e lambuzá-lo de tinta pegajosa e espessa.
Aproximava-se o fim. Ao fim de todos esses meses, ele tinha finalmente chegado ao capítulo final. Faltava-lhe apenas o parágrafo em que o personagem se levanta do balcão do bar em que se encontra a beber um licôr de café e atravessa a porta em direcção à resolução da estória. Mas, fruto do acaso, ou de qualquer outra vicissitude, nesse dia, entre o esforço para se manter concentrado na reunião trimestral com o chefe de equipa e o lembrar-se de comprar a coleira nova para o gato, por um qualquer motivo que o arrancou à rotina cerebral, não arranjou, pela primeira vez, as palavras. "Menos mal", pensou, "sempre me dá o tempo suficiente para acabar de me preparar." Era uma noite de celebração. Abriu a garrafa de Jack Daniels que tinha guardada por baixo do televisor que de resto, nunca ligava, e bebeu um trago. "E porque não dois? Afinal posso alongar-me. Hoje, ponho um ponto final." Ao fim de cinco doses, resolveu-se finalmente a arrastar-se até à cozinha e arrastou o frigorífico que lhe escondia o acesso ao tugúrio onde se encerrava. Acendeu o cigarro e desceu as escadas com ele aceso no canto dos lábios, garrafa numa mão e BIC na outra, como um punhal que carregava lesto, desembainhado da tampa plástica e pronto para a matança.
Sentou-se na secretária e acendeu o candeeiro, pronto para encerrar por fim o capítulo e dar a última pincelada de curare na ponta da flecha que tinha apontada ao coração dela, qual Cupido caído. As palavras começaram a afluir-lhe à mente, uma após outra, e ele aguardava antes de as marcar no papel, revendo-as, vendo-as dançar na cabeça como sempre fizera desde miúdo, embebendo-as no caldeirão de sabath que tinha encerrado dentro dele e imaginando as bruxas a dançar com elas, adorando a Besta que presidia a essa reunião improvável entre as palavras e a morte física.
Fechou os olhos, consumindo-se em nervos até que elas finalmente tivessem um encadeamento, uma lógica, que rasgassem como espinhos, cravassem a carne como a presa da víbora e lhe provocassem tanto prazer como se fossem um corpo que lhe tocasse exactamente da forma que ela sempre sonhara, levando-a insuspeita nos braços de Dionísio até aos pés de Medusa para um último beijo antes da respiração entrecortada se extinguir num último gemido. Por fim, elas perfilavam-se, desfilavam na mente dele, uma após outra, e ele via-as, a descreverem círculos em espiral, passando em frente dele, através dele, sair do corpo e entrarem de novo. Via-o a levantar-se do balcão, esmagar o cigarro no cinzeiro já cheio, a tonalidade da luz condensada em adjectivos, o fumo que pairava na penumbra, a luminosidade que entrava pelo vidro da porta a anunciar a manhã. Viu tudo, e via como isso era difícil de parar, era impossível resistir, sim, ela vai ter de ler até ao fim. Tomou nota mental de que a última palavra teria de ser colocada de forma isolada na última página, em ímpar, para que o pathos fosse prolongado, a curiosidade levada até à ansiedade de virar a página, como quem vira uma esquina numa correria sôfrega e desenfreada e carrega sobre uma espada nua apontada a nós, pronta a rasgar-nos até à morte. Sim, ele sentia isso, o tremor da excitação, podia saborear como ela iria reagir, levada até à palavra que se formava agora na cabeça dele.

Encontraram-no três dias depois, caído para trás na cadeira de encosto, depois de a vizinha do lado estranhar o facto de ele não ter recolhido o correio que se acumulava à porta. Encontraram-no ainda com o filtro queimado do cigarro nos dedos, apertado quase até se desintegrar, e estilhaços da BIC esmagados na mão direita, "tal força deve ele ter feito no último momento", afirmou o paramédico ao inspector de polícia que recolhia indícios; "apoplexia fulminante" ditava o relatório preliminar do médico legista; "pobre coitado", dizia o senhorio.
Recolheram o que se encontrava na cave para análise forense: um candeeiro de latão e uma resma de folhas amarelas, organizada e carregada de traços longos e finos, que eram a caligrafia de alguém a quem urgia o tempo. Uma arma, era o que eles recolhiam. Particularmente inofensiva agora, já que a porção final de veneno tinha ele consumido na última noite, enquanto as palavras o atravessavam e dançavam através dele, acumulando-se com o restante veneno que ele sabia de cor e salteado no âmago.

A pedido da família, o manuscrito foi-lhe entregue a ela, já que no frontispício se encontrava a dedicatória, com o seu nome inscrito. Leu-o numa noite, deliciada com o que lhe saltava na mente ao ler as palavras que ele lhe dedicara, ao contar aquela estória densa e apaixonante. Mas faltavam-lhe os parágrafos finais, os derradeiros, o clímax último. "Afinal de contas, eu tinha razão", pensou enquanto guardava a resma numa caixa de sapatos; "nunca foste capaz de levar nada até ao fim."

Jardinagem Aplicada

I can't go on digging roses on your grave.





Umas coisas morrem. Outras nascem.
Every new beggining comes from some other beggining's end.




segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Síndrome "My Name Is Earl"

Entrei numa espécie de prisão kármica; e o Universo acabou de mandar um sabonete para os meus pés.




O dia promete....

sábado, 14 de agosto de 2010

Word

"Questiona tudo!!!"

































... porquê...?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Verdades



É um debate com mais de duzentos anos, o que Emanuel Kant e Benjamin Constant travaram. E eu inclino-me, irremediavelmente, para Constant: torcer um bocadinho a verdade pode ser útil. Já Kant dizia que se um assassino nos pergunta pelo vizinho, é imperativo dizermos onde ele está.



Teorema da "Trela Curta" : da política ao amor

- "E os homens têm menos receio de ofender alguém que se faça amar do que alguém que se faça temer; porque o amor mantém-se por laços de obrigação que os homens, por serem maus, rompem sempre que surge ocasião mais proveitosa; o medo, porém, mantém-se pelo temor do castigo, que nunca os abandona."


- "Portanto, voltando ao que disse acerca de ser temido ou amado, concluo que, dado os homens amarem segundo a sua vontade e temerem segundo a vontade do príncipe, deve um príncipe sábio basear-se no que é seu e não no que é de outros, e deve apenas usar de todo o seu engenho para não ser odiado."


"O Príncipe"
Maquiavel


(É de mim, ou ando a ler coisas onde elas não existem?)


"Res dura, et regni novitas me taglia cogunt
Moliri, et late fines custode tueri"
Eneida, I, 563-564

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

He's got the whole wide world (in his head)

"Chegada a noite, retorno a casa e entro no meu quarto; à porta, deixo as roupas quotidianas, cheias de barro e lodo, visto roupas dignas de rei e, vestido assim condignamente, penetro nas antigas cortes dos homens do passado onde, por eles recebido amavelmente, me nutro daquele alimento que é só meu e para o qual nasci; não me envergonho ao falar com eles e perguntar-lhes das razões das suas acções.
Eles, por humanidade, respondem-me e não sinto durante umas horas qualquer tédio, esqueço todas as aflições, não temo a pobreza, não me amedronta a morte; transfiro-me inteiramente para eles."




Temo que a esquizofrenia adquira contornos demasiado subtis para quem se acha são; que viva no nosso vão de escada. E que se deite connosco na cama.



"Para ser rei, só lhe faltava o Reino."
Justino

sábado, 7 de agosto de 2010

Ao meu avô

Guardo para sempre comigo o momento em que o meu avô chegou de viagem há muitos anos atrás. Era já bem tarde quando chegou a casa, que tinha ficado sob minha responsabilidade na ausência dele, e só isso já me fazia sentir "crescido" do alto da minha adolescência galopante em necessidade de afirmação. Chegou como qualquer idoso, cansado mesmo depois de duas semanas de férias, mas com a energia que sempre lhe conheci e que ainda hoje, volvidos 10 anos, ele continua a manter.
Por entre os beijos, os abraços e as recordações trazidas do mundo para mim desconhecido mas certamente maravilhoso dos Algarves, vejo-o nem cinco minutos aguentar em casa, virar costas sem sequer despir a roupa da viagem, e caminhar para a entrada.
Levanta-se logo a voz da minha avó "mas onde vais tu a estas horas?", justamente, já que há uma da manhã não há muitas outras perguntas que possam fazer-se a quem chega de mais de 8 horas de caminho. O meu avô vira-se e respondeu-lhe com um ar solene e ainda assim com a simplicidade da constatação da coisa mais óbvia do mundo "vou dar uma volta lá em baixo, ver as coisas que eu vi crescer, as coisas que eu amo."
Hoje que é a minha vez de chegar de viagem, tenho pena de não ter comigo as coisas que amo. Ainda mais as pessoas. Mas guardo bem gravada na memória a recordação dessa ternura de quem viu mil vidas crescerem em frente dos seus olhos.
Um dia quero ter essas coisas.
Um dia, avô, quero ser como tu.